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24 de julho de 2008

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Como organizar uma campanha eleitoral IV

por cila schulman

• Defino mobilização como a vida que pulsa na campanha.

• Porque, vamos combinar, sem gente nas ruas, sem o colorido das bandeiras, sem a movimentação nos bairros, sem os carros de som, sem a conversa ao pé do ouvido, sem os adesivos nos carros, sem discurso, sem palanque, sem um eventinho aqui, outro acolá, a campanha fica muito morna. É verdade ou não é? Ou você é daqueles que odeiam quando um alto-falante toca jingle político embaixo da sua janela? Sem ofensa, mas você tá fazendo o que aqui?

• Quanto a mim enquanto pessoa, lembro da decepção que tive na primeira vez que acompanhei um dia de votação nos Estados Unidos, em NYC, há muitos anos: cadê o povo? Cadê a confusão? Na-da. Porque lá não é feriado nem o voto é obrigatório nem tem essa nossa algazarra brazuca. Mas que falta de clima, que coisa chata, que tristezada eu senti por aqueles eleitores tão imensamente infelizes.

• Então, objetivando: a gente já falou aqui da coordenação-geral da campanha, do organograma, do conselho político, do financeiro, do jurídico, da logística, vamos saber agora como organizar bem essa área, a da mobilização.

• Antes de pegar no pesado, só mais um parêntese, juro que é importante: a gente sabe que as campanhas vêm mudando muito nos últimos anos, que a nossa democracia está em processo de amadurecimento e que, também por isso, a cada eleição novas regras são incorporadas, nunca é a mesma coisa. Isso faz com que todos nós tenhamos que nos adaptar – o financeiro, a comunicação e o jurídico são áreas que a cada dois anos, nestes últimos anos, quase que precisaram se reinventar, pois tiveram que adaptar práticas já tradicionais a alguma nova legislação ou tecnologia.

• Mas isso é peixe pequeno perto das transformações que ocorreram na área da mobilização. Primeiro por causa dos humanos. Sim, no início existia a militância. Sabe, aquelas pessoas que empunhavam bandeiras, literalmente, pela causa e saíam cabulando votos dia-e-noite, brigavam na rua pelo seu candidato? Aí na sua cidade esse pessoal também foi abduzido? Pois é, aqui sumiram todos e foram substituídos por um povo com cara de mosca-morta que mal equilibra suas bandeiras e só em horário comercial nas (mesmas) principais esquinas por onde a gente passa.

• Além destes tais militantes, também sumiram, desde as últimas eleições, aqueles outros humanos do tipo que só diziam sim, por uma coisa à toa, uma boa noitada de comício, uma camiseta, um brinde, uma linguiçada, qualquer coisa assim.

• Tá, não era ali que a gente ganhava voto. Mas os showmícios produziam imagens grandiosas, davam emoção na edição da TV, era uma beleza pra comunicação. Agora, como reunir uns gatos pingados sem ser produção pra filmar comercial de campanha? Como mostrar que o povo vestiu a camisa do candidato se nem camiseta mais tem?

• Não, eu não sou contra a legislação; não, eu também acho que as campanhas já estavam ficando meio Rock’n’Rio, despropositadas. Mas que ficou mais difícil pro pessoal da mobilização, ah, isso ficou. Então vamos a ela, pronto, que nem tudo está perdido:

• A primeira tarefa do coordenador de mobilização é conhecer muito bem as estruturas da chapa proporcional.

• Em português claro: saber quem são todos os candidatos a vereador da coligação do seu candidato a prefeito, quantos votos podem fazer, em quais regiões, como, quando e com quem. Já fiz isso em campanha pobre – sim, como cita a minha mãe, já fui rico e já fui pobre, rico é melhor – pegando carona no esquema de mobilização dos candidatos proporcionais, muitas vezes muito maior que o nosso, do majoritário.

• E ainda que a sua campanha nade em dinheiro (se for esse o seu caso, me liga mesmo que seja a cobrar, já!), uma das tarefas da mobilização é coordenar a agenda do majoritário com os proporcionais, o que é bom pra todo mundo. Ganha o candidato a vereador com a presença em seu evento do candidato a prefeito, ganha o candidato a prefeito falando para os eleitores do seu apoiador.

• Depois da chapa proporcional, procure levantar quem são os demais apoiadores e as principais lideranças que estão ou que podem estar na sua campanha. Um presidente de associação de bairro, alguém que foi candidato em outra eleição e já fez votos na região, uma liderança comunitária, étnica, sindical, de categoria profissional, podem ser amigos, enfim, faça uma lista de gente que tem vontade de trabalhar e poder de… mobilização. Entre em contato com cada um deles e monte uma agenda. Coordene com eles a abertura de comitês, a distribuição de materiais, os eventos que eles vão fazer e que podem (ou não) contar com a presença do candidato, e assim por diante.

• O fundamental é que você possa ter nas mãos, ou melhor, na parede, um grande e detalhado mapa com todo o seu exército, podendo movê-lo de acordo com as suas necessidades e possibilidades.

• Eu falei no início que os militantes não existem mais. Isso é praticamente verdade. Mas não é totalmente.

• Ainda tem gente interessada em abrir a casa e reunir os amigos para conhecer o seu candidato, ainda tem gente que quer liderar um comitê, ainda tem família, amigos, funcionários, colaboradores que querem ser voluntários numa campanha eleitoral. Pois não perca essa gente de jeito nenhum, cuide para que elas sejam um pontinho no seu mapa, pois assim além de saber o que elas andam fazendo, você ainda pode dar tarefa para elas. E na verdade todo mundo gosta de receber tarefa, que é melhor que inventar o que fazer, certo?

• Caberá a você também organizar a ocupação visual da sua cidade e a distribuição do material do seu candidato. Essa é uma tarefa que você vai fazer junto com o coordenador de logística, que conforme a gente já viu é quem vai encomendar o quantitativo de material e também é quem vai contratar o pessoal pago para balançar bandeira, colar adesivo, distribuir jornalzinho e panfleto e tudo mais que você programar. Cuide para aplicar os recursos disponíveis de forma racional: nem muito nem pouco. Já vi campanha perder por excesso de gente paga, de material caro, de bandeira demais nas esquinas. Juro que não estou inventando: o povo não é bobo e não gosta desse tal de abuso do poder econômico. Tome cuidado também para não ser tão modesto (ou imprevidente, vai lá) e deixar o seu adversário tomar as ruas e você ficar de fora. Porque também tem aquela máxima verdadeira de que o eleitor não quer “perder o voto”. E se você não existe nas ruas, as pessoas entendem que você não é competitivo. Dois + dois = muito bem!

• A prática chamada “casa a casa” já foi um enorme diferencial de campanha, quando pouca gente sabia como fazer. Hoje todo-mundo-faz, seja com geoprocessamento, com estudantes contratados, com funcionários públicos em férias, com exército de tudo quanto é jeito. Mas ainda é uma ciência que merece a sua dedicação. Porque sem casa a casa, sou a primeira a dizer: a campanha não rola. Porque é no casa a casa que dá pra entender bem o que está pensando o eleitor, é no casa a casa que dá pra ganhar intimidade, é no casa a casa que dá pra preparar terreno pra visita do candidato no bairro, é no casa a casa que dá pra distribuir material qualificado, é no casa a casa que dá pra mapear o seu eleitor, é no casa a casa que… Recomendo forte, mesmo que você não possa cobrir a cidade toda, organize um casa a casa competente e seus votos vão se multiplicar. Vai fundo!

• Parte importante da mobilização, a dos eventos, desde 2006, ficou bem chatinha. Não dá pra oferecer comida nem show nem nada. Então me diga, do fundo do coração: quem é que vai num evento, que seja um aniversário de criança, sem música, sem brigadeiro, sem lembrancinha? Tudo bem, você diria, é só pra cantar parabéns, quer dizer, pra discutir a proposta. Bem, se você conseguir juntar mais de 10 pessoas diferentes por noite na sua campanha, a seco, só pra discutir a sua proposta, também pode me ligar a cobrar, do mesmo telefone do cara da campanha milionária lá de cima, combinado?

• Enfim, evento tem que ter e aí vai depender da sua criatividade e da generosidade dos seus apoiadores. Pois diz a lei que o candidato não pode oferecer nenhum benefício para os seus eleitores, mas não diz que os eleitores não podem oferecer benefício para os candidatos. Como jantar, almoço, lanche, linguiçada, chope, café-da-manhã, chá com bolo e outras refeições menos votadas significam, para a legislação, benefício, o caminho é arrumar quem queira pagar pra jantar com o seu candidato. Deve existir gente assim, não? Oras…

• Finalmente, a última tarefa da mobilização é também a última da campanha: o Dia D. Não, não vamos ocupar a Normandia, mas temos que ocupar a cidade no dia da eleição. É fundamental, embora hoje tenha muita proibição. Ainda assim, é sua obrigação credenciar fiscais para todas as seções eleitorais e treiná-los com antecedência junto com o pessoal do jurídico.

• Como é necessária uma multidão para esta ocupação, então sugiro que você comece logo a pensar onde você vai encontrar tanta gente de confiança. Isso mesmo: corre pra procurar, em vez de ficar navegando na internet, cara, que o tempo…

12 Comentários Comente
  1. Ágata
    mar 5 2010

    Adorei as dicas, fundamentais nesse período de eleições…

    Responder
  2. Catia
    abr 26 2010

    Como podemos fazer para entrtar em contato, para a elaboração de um organogrrama e um cronograma de campanha.

    Responder
  3. amauri
    maio 19 2010

    Parabéns pela forma e pela didatica que foram colocadas as varias etapas de uma campanha, comungo do mesmo pensamento que a “ditadura juridica”, que foi imposta nas campanhas eleitorais onde tudo foi proibido onde om direito a manifestação do eleitor foi tolhida, e desta forma muito do brilho e da emoção das campanhas foira, feridas de morte. Torço pra que nossos legisladores acordem e restabeleçam o direito a manifestação do povo. caso seja possivel me mande o organograma de uma campanha de deputado estadual.

    Responder
  4. jun 29 2010

    Muito bom ! Muito bom mesmo . Estava estimando quanto tinha que gastar na proxima eleção. Depois de ler o artigo é melhor estudar mais o tema.

    Responder
  5. jul 4 2010

    Gostei muito do jeito descontraído que você aborda o assunto eleição. Simples, prático, objetivo e numa linguagem popular de fácil entendimento. Me ajudou muito na primeira parte de minha monografia para formação em Propaganda e Publicidade.

    Responder
  6. jul 15 2010

    Prezada, gostaria muito de agradecer suas colocações aqui descritas de forma ética, simples e objetiva. Foi através de você que consegui dar o ponta-pé inicial em minha Campanha para deputada estadual aqui no RJ. Como muitos não tenho apoio financeiro, mas tenho capacitade para criar estratégias em minha Campanha.
    Parti do seu passo-a-passo e hoje tenho uma Plataforma justa, sem aquelas aberrações partidárias que vemos por aí, propostas inusitadas e imagem destoada. Sou contra Campanhas em que um fala mal do outro, o ELEITOR QUER DAR SEGUIMENTO Á LUTA COM A VERDADE, e essa é minha Proposta… Fatores necessários para uma vida melhor.

    Ah! O meu Slogan é: SEMEANDO E COLHENDO POR UMA VIDA MELHOR
    E como pilot: A Semeadura é livre, mas a Colheita é obrigatóeia.

    Desde já lhe agradeço pelo auxílio, mesmo que de forma virtual.
    Cordialmente,

    Alessandra Tomas – deputada Estadual – 17600 – PSL/RJ

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  7. Fernando
    jul 16 2010

    Boa Noite Cila,

    Gostaria de saber se poderia me enviar um exemplo de organograma de um candidato a deputado estadual.

    Agradeço desde já,

    Fernando Moulin

    P.S> se tivesse que avaliar os seus artigos não haveria nota possivel é mais que 10, simplesmente sucinto e direto.

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  8. out 22 2010

    nossã

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  9. Paulino Brito
    nov 6 2010

    Bom dia
    Parabéns pelas informações, mesmo aqueles com experiência em campanhas deveriam ler o seu artigo pra que não incorram em erros simples.
    As informações são didáticas ede simples compreensão.
    PS.: pesquisando o assunto na internet, encontrei referência do seu texto no seguinte caminho: http://politicapublicadigital.blogspot.com/2010/07/como-organizar-uma-campanha-eleitoral-i.html
    só é possível identificar que o post da pessoa é mais atual.
    Também percebi que o responsável pelo post, não menciona que o texto foi extraído do seu post.
    Não é prudente o que ele está fazendo!
    Assim como também, é uma falta de educação fazer um post como se fosse dele.
    Parabéns pelo seu trabalho!
    Paulino Brito

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  10. Cristiano Port
    nov 18 2010

    Boa noite: Muito bom o blog como um todo. Formamos em minha cidade, um grupo de partidarios que não gostou nada da maneira que foram conduzidas as campnhas de 2008 e 2010. Assim nos reunimos e estamos trabalhando um planejamento para 2012 e usamos o blog como fonte de inspiração. Continue blogando, precisamos de inspiração. Saúde e Paz. Cristiano

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  11. Kátia
    out 4 2011

    Nooosssaaa… Que aula! Valeu! Ri muito, é claro, mas me ajudor bastante a ver defeitos viviosos que temos qndo pensamos em coordenar uma campanha! Valeu! Abraço e obrigada!

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  12. Rozileide Rangel Andrade
    jan 31 2012

    seu artigo é de fácil compreensão e gostei muito, pois vai me ajudar nas campanhas eleitorais, vou fazer parte de uma equipe para elaborar um planejamento estratégico e gostaria que me ajudasse nessa tarefa difícil, muito obrigada.

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